Opinião
Pedro Rios

A cidade incubadora


Diz-se que o Porto sempre foi a cidade dos empreendedores. Como em todas as frases genéricas, torna-se difícil comprovar ou desmentir a ideia: vale o que vale, como todas as frases genéricas. Mas apetece abraçar definitivamente a ideia quando se observa o que aconteceu na Baixa da cidade nos últimos três anos. Novos espaços de lazer (bares, lojas, estabelecimentos multifunções), que preenchem ruas anteriormente desertas, surgem como cogumelos, aparentemente sem medo da concorrência.
Só por si isso já é saudável: eis uma nova forma de ver os negócios, numa lógica de rede em que o sucesso de uns contribui para o sucesso dos outros. Mas há ainda mais motivos de satisfação quando notamos que a rede, informal, é potenciadora de outras colaborações, nomeadamente de promotores independentes de concertos.
Gente como Joaquim Durães, da Lovers & Lollypops, uma “entidade” de uma pessoa só inspirada pela ética punk do “faz tu mesmo”, e André Mendes e Jorge Bastos, a dupla Amplificasom, souberam aproveitar a movida e contribuem para ela. Como disseram ao “Público”, em Janeiro, movem-se pelo amor à música e não por eventuais lucros – eles não existem, na maior parte dos casos, e, não raras vezes, há prejuízos.
A acção destas e de outras pequenas promotoras não explica tudo, mas é fundamental percebê-la para entender o que se passa na cidade hoje – uma agenda de concertos incomparavelmente mais cheia do que a de há alguns anos. Com mais oportunidades e promotores interessados em mais do que lucros, os músicos do Porto têm mais motivos para criar e mostrar trabalho.
O Porto nocturno é hoje uma incubadora de ideias que importa observar e acarinhar. O que entusiasma é que a dinâmica surgiu das bases, desinstitucionalizada, com espaço para o risco, o inusitado. Que se mantenha assim, insubmissa e livre, por muito tempo. Jornalista freelancer, colaborador do jornal “Público” e da Rádio Renascença