Porto ao Vivo
A música ao vivo na cidade Invicta - Projecto Jornalístico UM
terça-feira, 2 de junho de 2009
Opinião João Pedro Barros

Música ao vivo no Porto: há mais palcos, mas é excessivo falar em "explosão"

Talvez seja excessivo dizer que há uma grande evolução em termos de apresentação de música ao vivo no Porto, pelo menos se falarmos de pequenos/médios espaços (palcos da dimensão do Coliseu são contas de outro rosário). Porém, acho que não há muita gente a afirmar que o panorama está pior do que há uns dez anos atrás.
Parece-me que há um aumento do número de palcos onde bandas de garagem (ou semiprofissionais) podem apresentar o que andam a ensaiar. Em boa parte, isto deve-se ao aparecimento de um grande número de bares na Baixa, nos últimos anos, especialmente em torno da zona das Carmelitas. Por natureza, estes são espaços muito diferentes das discotecas da zona industrial – que têm sofrido muito com a passagem da “movida” para a zona central do Porto – e incluem frequentemente, na sua programação, música ao vivo. Lembro-me de alguns sítios óbvios: Plano B, Pin Up, Casa do Livro. Na Rua do Breiner, o Breyner 85 é um interessante projecto que combina academia de música, bar, sala de concertos e salas de ensaios. O Maus Hábitos, na Rua Passos Manuel, tem sofrido com a deslocação do movimento nocturno para a citada zona das Carmelitas e arrisca menos na programação musical do que há alguns anos atrás. É um dos espaços onde os responsáveis não dizem que a vida lhes tem estado a sorrir. Também o Uptown, que acolhia muitos concertos, fechou portas.


Que critérios norteiam a programação e que tipo de economia isto gera? Nos casos citados, há diferentes abordagens, mas pode dizer-se que o gosto pessoal dos proprietários influencia sobremaneira as respectivas agendas. Mas, um bar precisa de ter música ao vivo para ter sucesso? Claro que não. Em primeiro lugar, isso exige um mínimo de condições técnicas, o que implica dinheiro. Porém, a importância da música ao vivo como factor de animação nocturno é grande. Não é por acaso que a música tem uma fatia de leão em grande parte dos suplementos ou secções dedicadas à cultura na imprensa. Por outro lado, parece-me evidente que os proprietários dos bares, frequentemente melómanos, gostam de se sentir programadores ou até mecenas (desde que não seja para se perder muito dinheiro). O modelo de negócio do Pin Up tem o seu suporte em bandas de garagem que levam amigos e conhecidos (ou até pequenas legiões de fãs) a ver os concertos. Isto é inevitável em qualquer cidade média da Europa e, obviamente, muito salutar. Uma banda dita de garagem não tem as portas escancaradas para tocar ao vivo, mas tem, neste momento, alguns palcos onde poderá tocar no Porto. Será também excessivo falar em circuito de bares, mas, mexendo alguns cordelinhos, tais bandas podem conseguir alguns espectáculos, num circuito privado e sem apoios de autarquias (o que é de sublinhar).


Convém referir neste âmbito o caso paradigmático do Stop, um centro comercial algo degradado, na Rua do Heroísmo, onde ensaiam, provavelmente, mais de uma centena de bandas. As condições são poucas, mas há uma enorme vontade criativa, que até pode ser economicamente relevante. Por exemplo, Heitor Alvelos, professor na Universidade do Porto e curador do festival Future Places, já referiu que estes músicos, enquanto unidades criadoras, podem ajudar Portugal a “sair da crise”. Nesse aspecto, um projecto como o Breyner 85, onde as bandas têm boas condições de ensaio a preços módicos, é de saudar.


Finalizando, posso tentar responder à pergunta: de que forma a música ao vivo é integrada na vida cultural da cidade, dentro deste panorama de pequenos/médios espaços? Diria que representa um lado muito relevante da produção artística do Porto (que até tem muita tradição como local de formação de colectivos de sucesso nacional), mas que ainda circula por territórios algo marginais. Por exemplo, na visita de bandas estrangeiras a estes espaços, já assisti a salas cheias e vazias. As bandas que criam por cá o seu trabalho são ainda mais importantes para a cidade (e para a região) e talvez fosse interessante que a sua produção (e tudo o que lhes está associado) fosse assumida como uma espécie de cluster. Porém, sublinhe-se um aspecto: a organização tem de começar nos próprios colectivos. Jornalista freelancer, colaborador dos jornais Sol e Público e da Agência Lusa
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